domingo, 6 de setembro de 2009

Quando a intransigência se faz presente

Quando a intransigência se faz presente

Por Sebastião Uchoa


Sabemos que a mola propulsora da intransigência, muitas vezes, fundamenta-se no princípio da arrogância ou do individualismo eminentemente exclusivista.

O incômodo disso tudo é a persistência em que nos colocamos quando, chamado a uma necessidade de se refazer conceitos ou preconceitos unilaterais, optamos desnecessariamente e achando mais conveniente, simplesmente rejeitarmos toda e qualquer forma de nos impelir à reflexão necessária e real que temos de romper com o fenômeno da mesmice que tanto nos reduz à condição análoga de um ser que simplesmente se nega veementemente na condução de sua vida. E o pior, acha-se que está “abafando” quando na verdade “está se abafando” perante os desafios da vida.

É nas rodadas pela vida que nos deparamos com situações que, sob o teste em demonstrarmos os avanços subjetivos rumo a um estado de diálogo e civilizado, nos vemos comumente escravos dos preconceitos e resolvemos adiar qualquer maneira de efetivamente inovarmos para com os desafios que a vida nos coloca a frente em nosso cotidiano.E o pior, a redução para com o entendimento frio das coisas é tão grave que preferirmos por comodidade ou simplicidade, optarmos pelos arranjos objetivos das coisas, principalmente ao insistirmos na resistência de procurarmos vias alternativas à resolução dos desafios que passamos na vida, seja lá no campo emocional, afetivo ou profissional.

Existe um adágio popular que o “pior dos cegos é aquele que não quer ver”. E me parece que bem se encaixa a reflexão acima, principalmente quando fazemos da intransigência o falso norte presente de nossa vida, diante dos inúmeros chamamentos a uma sensibilidade sistêmica e correcional que tanto nos reclama pela interiorização de valores universais; quando ausentes, terminam por nos impedir que realmente cresçamos em todos os sentidos no passageiro viver que nos acompanha.

Certa vez um determinado chefe de uma repartição pública, achando-se insubstituível ou dono do saber como se fosse o “Deus” e, portanto, onipotente e onisciente, afugentou-se no campo do famoso raciocínio instrumental (linear, direcionado, exclusivo e extremamente objetivo) ocasião em fez questão de deixar bem claro que “todos os subordinados funcionais deveriam curvar-se a ele” diante de um determinado impasse acontecido no órgão. E ao se olvidar que tudo se resumiria a uma estratégia simples de se puxar uma reflexão de todos os atores envolvidos sobre o ponto em questão, sobretudo no despertar dessa consciência universal entre o grupo, acabou por acordar nos demais circundantes sua verdadeira face oculta ante a situação instaurada. Ou seja, vieram a tona conceitos dantes desconhecidos por todos, já que diante de uma problemática pequena, grandes adjetivos foram suscitados à pessoa que antes ostentava certo bem-querer. E o reconquistar da situação carismática, praticamente tornou-se impossível, pois a desconfiança e o descrédito foram as expressões que ficaram como seqüelas incontestes e irreversíveis do acontecido.

Interessante que do incidente acima narrado, terminou por todos entenderem que, quando a intransigência se faz presente nas relações humanas, somente outro canal de diálogo pode reverter o quadro estabelecido rumo a uma pacificação dos interesses em conflito.

Ora, optar por uma intransigência na arte de se conduzir a vida externa dos relacionantes, com certeza nada mais se conclui senão pela pequenez do ser inexpressivo dentro de nós que, caso não o extirpamos, com certeza, ambos sucumbirão diretamente, e a instituição da qual faça parte (qualquer um delas em nossa caminhada), por tabela sofrerá todas as conseqüências decorrentes. E a pergunta que sobrará será: a quem deveremos consignar a responsabilidade maior? Para os esclarecidos ou os mais cônscios, somente à arrogância, a prepotência, a vaidade e a deveras falta de humildade, como sendo únicas expressões que se podem atribuir a um ser que assim faça sua preferência de vida, mesmo que se destrua só, mas com certeza, até que o acorde, muitos sucumbirão juntos ante a necessária e verdadeira libertação de todos.

Sebastião Uchoa – Delegado de Policia Civil no Maranhão, Atual Diretor Geral da Academia Integrada de Segurança Pública e membro da Diretoria Executiva da Associação do s Delegados de Policia Civil do Maranhão – ADEPO/MAL

sábado, 5 de setembro de 2009

A sabedoria do recomeçar


A sabedoria do recomeçar

Por Sebastião Uchoa

Recentemente temos assistidos inúmeros casos de resistência à sabedoria na arte de se conduzir a vida, por determinados segmentos na sociedade, nas instituições públicas e até mesmo existentes nos lares. Até parece que é uma pandemia, mas não da gripe viária ou do vírus da influenza A, porém, da falta de sensatez e humildade humana em várias vertentes na condução da vida nessas relações ditas contemporâneas.

O problema, sabemos, é histórico, quiçá oriundo das primeiras manifestações humanas ao longo das disputas de poder nas primeiras civilizações quando a figura do chefe era a fortaleza maior em detrimento do líder que se poderia corresponder o ideal, mas longe ainda desse nível de interpretação, principalmente quando a doença do passado se repete no presente de forma até mesmo incomensurável, inclusive sob novas denominações.

No livro das “Bem-aventuranças”, vemos com muita propriedade a recomendação de se dar preferência ao mundo dos “pobres pelo espírito”, ao invés de conduzirmos a nossa vida equivocadamente pelo viés dos “pobres de espírito”.

Há na verdade, uma singular diferença entre as duas formas acima de o Homem conduzir sua vida, que, pouco percebida, determinadas circunstâncias nos confundem demasiadamente, sobretudo nos levando a uma autodestruição, principalmente pela cegueira que nos impõe ao simplesmente acharmos que estamos nos “dando bem” diante de determinadas situações, e não querermos acordar que o “se dar bem” sempre, nada mais correspondente senão numa caminhada rumo a um mundo vazio interior tão profundo que, o próprio lado externo de um ser o abandonará, face a nova compreensão de que se trata apenas de uma visão eminentemente egocêntrica, doentia, típica dos profanos que levaram o Cristo à cruz e século depois, reconhecera a tamanha alienação por que se estavam inseridos, ante as falsas razões apregoadas pelos “concorrentes” da época por temerem a perda de espaço e poder na dominação das massas no período, já que o Cristianismo estava crescendo vertiginosamente.

A situação acima se repete e gera reflexo nas relações humanas atuais dentro dos mais variados segmentos de convívios ou organizações sociais.

O acordar para uma condução de vida na acepção de sermos “pobre pelo espírito”, pressupõe uma libertação interior e exterior no ser, de forma que a tal pobreza simplesmente se revelará em grandeza pelos atos de se rever posturas, posições, apegos, friezas, insensatez, egoísmo, avareza etc, já que nada nos pertence, a não ser a grande oportunidade que cada um tem para aproveitarmos ao máximo a cada segundo dessa passagem tão efêmera pela Terra no sentido de diminuirmos ao máximo aquilo que nos apreende a tudo e a todos, quando na verdade, “nada nos pertence”, mas tudo funciona como meros empréstimos para melhor fazermos da vida, uma grande oportunidade de crescimento rumo a um provável mundo melhor.

Assim como um mal tem começo, ele também tem fim. E isso se dar, obviamente, pela reconstrução de valores ou reencontro com Cristo dentro de cada um de nós, já que O está tão distante, embora muito pregado por nós que, hipocritamente nos socorremos a Ele, sem querermos acordar do sono profundo da vaidade que tanto no reduz a práticas inerentes à mediocridade humana.

Se cometermos erros na caminhada, não significa o fim de tudo ou da própria má escolha na trilha realizada; quem somos nós para ser eterno nas escolhas quando tudo se muda a cada segundo, sobretudo num mundo de constantes inovações? Mas quem sabe um recomeço seria a grande saída objetivando uma outra opção ao despertamos que somos efetivamente imperfeitos e não de falsos “heróis” que criamos de nós mesmo, quando somos “cadáveres adiados que procriam” nas palavras do saudoso Fernando Pessoa?

É preciso estarmos dispostos a aceitar o “outro” em nós, ao colocarmos verdadeiramente o outro em nossa vida. Assim, caminharemos para um mundo de irmãos, já que pensaremos inúmeras vezes antes de externarmos uma conduta que possa prejudicar terceiro ou a terceiros, daí, podermos até dizer: estaremos dando um sentido ético à nossa forma de conduzir as turbulências que o dia-a-dia da vida nos tanto cobra decisões.

A nova escolha para se recomeçar, nada mais simboliza do que uma grandeza relacionada com uma verdadeira sabedoria, pois se demonstrará fortaleza pelo testemunho que daremos a tudo e a todos que o reconhecimento de que “somos todos iguais, braços dados ou não”, nos faz sentir filho de Deus e opção pelo Cristo, já que Este, tantas privações passou, mas mesmo diante de várias tentações fez a escolha sábia maior: a morte física pelo amor incondicional às verdades do seu Pai, justamente pela preferência serena à humildade como melhor meio de crescer e recrescer durante o tempo rápido que temos para prestarmos conta do que podemos fazer ante as oportunidade que sempre nos tem colocado a frente, pelo nosso Deus maior.

Sebastião Uchoa – uchoa39@yahoo.com.br, Delegado de Policia Civil no Maranhão, atual Diretor Geral da Academia Integrada de Segurança Pública, membro da Diretoria Executiva da ADEPOL/MA.