segunda-feira, 25 de maio de 2009

Ao Saudoso Afonso Carvalho...

Ao Saudoso Afonso Carvalho...

Por Sebastiao Uchoa

Lembro-me perfeitamente da última vez que nos vimos, justamente na posse do nosso atual Delegado Geral, carinhosamente, Dr. Antônio Bezerra.
Logo na saída, quando o vi, dirigir-me a você e te dei meus verdadeiros fraternos abraços, sobretudo sem as máscaras do dia-a-dia humano tão em voga no mundo que hoje o temos como de falsa necessidade de sobrevivência, ocasião em que me fizeste algumas perguntas e me disseste em tom agradável palavras de carinho e respeito, provavelmente das inúmeras conversas que tivemos oportunidade de manter, ainda quando estavas Delegado Regional de São Bento, depois vieste para 13° DP nesta Capital e outros encontros saudáveis, justamente quando estava Superintendente de Policia Civil da Capital.
Sempre o achei de uma neutralidade ímpar, mas não passivo, sobretudo nos campos éticos na condução interna de assuntos profissionais, mantendo-se constantemente em posição pacificadora.
Confesso que quando o olhei na última vez, veio-me uma sensação desagradável, muito comum em prenúncios do meu ser nessa minha jornada-vivência, mas como resisto a tais intuições, passo a frente, por isso o impacto da notícia de tua partida, pois estava no ambiente hospitalar ao lado da minha querida esposa.
Nós, colegas, amigos e irmãos que aqui ficamos provisoriamente, apenas tivemos outra oportunidade de ver você no atual estágio em cada um de nós, quando breve e irrenunciavelmente chegará nossa vez, é só questão de tempo. É só refletirmos a caminhada efêmera da Vida.
É preciso repensar a vida, os valores, os apegos às coisas materiais que tanto nos reduz a uma condição de homem-coisa, as mentiras, as rebeldias insensatas, o egoísmo materializado no individualismo, a auto-projeção, enfim, tudo isso que nos leva a uma redundância na tamanha mediocridade pela renúncia de nossas próprias essências ante a existência material de nosso cotidiano. A morte física, às vezes, serve para esse ramo de reflexão.
O poeta português Fernando Pessoa bem coloca quando assevera que “somos contos contando contos, nada mais”. Daí a importância de fazermos nossa passagem tão rápida por aqui, mas com contos de virtudes e de eternas reconstruções pessoais, profissionais e humanas, tanto nos colocado a testemunhos, porém negados por todos nós (às vezes inconscientemente) em nosso eterno e repetitivo viver cotidiano. Eis o mistério da vida: uma eterna oportunidade de nos avaliarmos e educarmos o outro através da força de nosso exemplo, seja quem for e estiver à nossa frente (amigos, colegas, “inimigos”, estranhos etc)
Na minha grande ignorância, mas repleto de compaixão e solidariedade com seus entes queridos, resumo minhas lembranças de você, pedindo ao Pai que o receba com a mesma força do amor que lhe concedeu a vida, sobretudo o mantendo no campo da serenidade em que verás que tudo foi, na verdade, uma mera peça teatral, onde fizeste teu papel, como filho, pai, irmão, amigo e colega, cujo resultado maior, refletiu-se na necessidade do retorno à casa espiritual, segundo o crescimento que a cada um carregamos como suposto peso da vida. Deus é perfeito e justo, e dar ao homem, aquilo que pode suportar como carga de crescimento espiritual anteriormente escolhido para com sua passagem por esse planeta de expiação que ainda continua sendo a Terra, já que a imortalidade nos persegue. Portanto, não há do que se ter receios. É só continuar a caminhada, claro, por “outras” vias.
Na verdade, a Vida não pára de parar. Mas é só lembrar que ela parte a todo instante, de uma forma ou doutra, ela parte... Às vezes devagar quase parando, às vezes rápido como a uma passagem de um cometa... O mais certo é que ela não pára de parar. E sempre nascendo já não parando, pedi licença aos que ficam para que eles entendam, que suas vidas também caminham sem parar, onde apenas aguardam sua vez no amanhã tão próximo, chegar. Só as saudades que congelarão o tempo vivido. Mas tudo passa.
Assim Afonso, que o Pai em toda a sua plenitude, mediante seus emissários espirituais, possa estender-te as mãos do consolo pela necessária e inesperada partida acontecida, assim como a todos que o sempre o teve, e eternamente o terá. É o mínimo que posso em meu silêncio carnal e reflexões espirituais, fazer-te perante o simplesmente ocorrido (para Deus nada é imprevisível) e acima de tudo, desejando-te o melhor em compreensão para com aceitação dos desígnios Divinos, ocasião em que afirmo-te: “Que assim seja feita a vontade do Pai”.

Sebastião Uchoa- 10/09/2008-São Luís/Maranhão

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