segunda-feira, 25 de maio de 2009

Não tenha medo de reagir...

Não tenha medo de reagir...

Por Sebastiao Uchoa

Prega-se nos quatros rincões do mundo a serviço não se sabe de e para quem, se é que não sabemos concretamente, que precisamos sempre nos recuar diante de determinadas adversidades da e na vida em nosso comumente viver. O que não bem é verdade essa assertiva.

O recuo, quando coerente, é necessário, mas quando limitar a capacidade de o ser humano reagir para a existência de sua participação na vida pessoal e social impondo-lhe a própria sensação de inexistir, é um bom sinal para que se possa, urgentemente a dizer “não”, sob pena de realmente se aceitar o inaceitável e com isso se reduzir ao simples não querer resistir para existir.

Frei Beto, salvo engano há quatro anos, em artigo publicado num dos jornais de grande circulação no país (não me recordo o nome), colocou que “não basta pensar para existir, é preciso, pensar e resistir para existir”.

O nível de subserviência do animal humano projetado a partir do conceito de pós-modernidade satisfaz bastante o modelo de ser que apenas se sustenta como um ente em vida porque tem um corpo físico e um suposto nome lhe gerando o que comumente se chama identidade. Mas no fundo nada é, já que se nega veementemente em seu existir, pois só há de ser enxergado por terceiros mediante rótulos que simplesmente possam lhes identificar em valores quantitativos, e não qualitativos de sua existência humana. É no mínimo ser verdadeiramente pobre de espírito na acepção cristã.

Ocorre que, caso o ser humano não desperte para esse estado de letargia na condução de sua vida nesses tempos chamados de hodiernos, sem dúvida logo, logo, apresentarão sinais de sua própria morte em vida (e aí digam as dores de cabeça, pontos doloridos no corpo, insônias, cirurgias aqui acolá sem causa aparentemente clínica a apresentar etc). O que, no mínimo, o reagir passa a ser a forma de viver mais recomendável para que, pelo menos se morra com a dignidade em saber ter lutado para viver pela capacidade de ter se permitido em sempre ter dito “não”, quando o “sim”, sempre lhe particularizou à condição escravocrata nas relações humanas em seu devido cotidiano. Pura subjugação humana.

As percepções das relações conflitantes acima são bem delimitadas quando se vê nos relacionamentos humanos formas de dominação típicas de posturas ou gestões de desenhos totalitários ou despóticos mesmo (e aí pode ser comercial, organizacional, mercadológico, familiar etc), geralmente mantidos sob o julgo do “tudo posso” e “tudo deve me aceitar” “para que em tudo eu possa ganhar”, cujas bases desse raciocínio para a mantença de tais relações, desenha-se perfeitamente o apresentável mundo doentio de um ser que precisa “ter” para “ser”, já que nunca assim efetivamente será, ou seja, dentro da louca forma de conduzir sua vida, pouco ou até nada, aquele terá sua própria razão de ser, é exatamente o adágio contido nas palavras do saudoso Fernando Pessoa, “quem tem tudo, não tem nada, quem tem nada tem tudo, porque é livre”.


Ora, ser livre dentro de uma relação déspota ou diante de qualquer uma semelhante, é quase um achado de uma mosca branca no universo das demais viventes na Terra. Daí, a necessidade premente de aprender a reagir para, pelo menos ter o direito de sempre dizer “não”, quando oportunamente essa palavra venha a reconstruir o todo, e não parte de um todo nas relações humanas, muito queridas por relações unilaterais oriundos dos sistemas ditatoriais em gestões aqui acolá ainda vigentes nesse mundo afora.

A escritora Lya Lufft em “Pensar é transgredir”, bem coloca que “às vezes é preciso pegar o touro pelo chifre”, e assim fazê-lo ver que nem todo “chifre” serve como instrumento de defesa, pois nas andanças da vida, muitas vezes nos deparamos com becos sem saída, geralmente quando construímos relações multilaterais escondendo a real faceta unilateral voltada por interesses meramente egocêntricos em nosso falso e passageiro viver. Daí, a importância ímpar de aprendermos a dizer diante de fatos que nos tente a recondução à condição de criança ou adolescente sob ainda e uma suposta “dependência familiar” (quando adultos e de personalidade já formada, em tese, já estamos), é melhor partirmos para dizermos a nós mesmo que não devemos ter medo de reagir em nosso eterno caminhar, pois o medo é o simples retrato de não dizermos a nós mesmo que temos o direito de ser feliz e livre para voar diante das inúmeras adversidades que a vida nos possa trazer como testemunho do nosso real e verdadeiro existir, valendo a pena ousar, ainda que a vida física possa correr riscos das represálias patológicas pertinentes.

Sebastião Uchoa – Delegado de Policia Civil no Maranhão, membro da Diretoria Executiva da ADEPOL/MA e atual Diretor Geral da Academia Integrada de Segurança Pública do Maranhão-SSP/MA.

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